Temos estado a falar sobre o "sono e o "sonho", como um tema comum às diversas tradições. Contudo, ainda que se trate de um assunto da maior importância, o seu sentido mais profundo passa geralmente despercebido a grande parte das pessoas que, continuando a "dormir", imaginam no entanto que se encontram completamente "despertas". Claro que, em relação a isso, poder-se-á argumentar ser precisamente por esse facto que se não tem a clara consciência de se estar "adormecido". Mas nós não desistimos. Apesar de também não sermos imunes à influência deste "sono" coletivo, não desistimos de o combater.
O grande Iogui do século XIX, Ramakrishna, para mostrar que a vida, tal como é vivida pela maior parte de nós, não passa afinal de um sonho, costumava contar esta parábola: "Um pobre pescador perdeu o seu único filho, depois de gastar tudo quanto tinha para o salvar. Porém, enquanto a mãe estava inconsolável, ele parecia insensível. Por isso, a mulher, surpreendida e ao mesmo tempo chocada com a atitude do marido que não vertia uma só lágrima, observou-lhe: "O nosso filho morreu. E tu pareces indiferente. Como podes ser assim tão insensível?" Então, o pescador respondeu: "Sabes porque não choro? Porque esta noite sonhei que era rei e que tinha sete filhos. Quando acordei, vi que se tratava de um sonho e que não tinha nenhum filho. Afinal, foi como se tivesse perdido, ou tivessem morrido, os sete filhos do meu sonho! Agora estou acordado, mas continuo a sonhar... Então, se estou a sonhar, por que devo chorar pelo único filho que perdemos e não pelos outros sete que perdi quando despertei?" A mensagem desta parábola poderá parecer exagerada ao leitor. Mas, à luz dos ensinamemtos védicos, expressa uma profunda sabedoria. Diz o Bhagavad Gîta que "o verdadeiro Sábio não deve chorar nem pelos vivos nem pelos mortos". Porqque a morte e a vida fazem parte do mesmo jogo! Reconhecemos, no entanto, que tal atitude não pode ser exigida ao ser humano no seu estado atual de evolução. Por isso, é mil vezes preferível sermos autênticos, deixando exteriorizar o impulso, por vezes imprevisível e incontrolável das nossas emoções, do que que expressar o fingimento de comportamentos artificiais ou fictícios.
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JOSÉ FLÓRIDOREFLEXÕES Histórico
Março 2017
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