Temos estado ainda a falar sobre o Sufismo, evidenciando as "graças" de Nasruddin como forma de comunicar e de ilustrar, de um modo não filosófico, determinados conceitos de vida. Referimo-nos assim ao "sono"e ao "sonho" - estado que acompanha, infelizmente, a existência da maior parte de nós. Mas, os Sufis usam também o termo "embriaguez" para expressar esse estado em que vivemos, sendo por isso que algumas engraçadas histórias de Nasruddin apresentam o protagonista embriagado e cometendo, em consequência, os maiores disparates:
"Um dia, Mullah Nasruddin foi ao bar da cidade. Como já estava muito embriagado, o dono do bar não o deixou entrar. Mas, Nasruddin insistiu; e o dono do bar teve de o expulsar. Foi então à procura de outro bar. Mas, depois de andar muito, acabou, sem dar por isso, por regressar ao mesmo estabelecimento onde estivera inicialmente, entrando porém por outra porta. Olhou suspeitosamente para o dono do bar, porque o seu rosto já lhe era familiar, e pediu uma bebida. O dono do bar, reconhecendo-o imediatamente, zangou-se: "Eu já lhe disse que esta noite não lhe vou vender mais nenhuma bebida. Vá-se embora daqui porque você está a cair de bêbado!" Nasruddin saiu. Voltou a caminhar, cambaleando, à procura de outro bar. Andou, andou uma longa distância...Mas, como só havia aquele bar, acabou por regressar novamente a ele, sem dar por isso. Quando entrou, olhou para o dono do bar, cujo rosto já conhecia, e disse com um ar muito apalermado: "O quê? Mas então tu é que és o dono de todos os bares desta cidade?" De facto, enquanto não "despertarmos", ou enquanto permanecermos "embriagados", como a personagem desta história, voltamos sempre a fazer os mesmos disparates. Prometemos até a nós próprios emendar-nos. Mas, em vão. Não há emenda possível. Ao mínimo contratempo ou em qualquer situação imprevisível, "adormecemos" imediatamente e cometemos os mesmos erros. Mais uma engraçada história de Nasruddin, alusiva ao mesmo assunto: Conta-se que ele entrou num ascensor, cheio de gente, completamente bêbado. Todas as pessoas se aperceberam disso e, ainda que Nasruddin tentasse disfarçar, não o conseguiu. Virou-se, fez o possível para não ser observado, até que, não sabendo já o que fazer, disse de repente: "Vocês devem estar todos a pensar por que é que eu convoquei esta reunião..." Moral destas histórias: Se não estamos "embriagados" pelo vinho, estamos "embriagados" pela força diluviana da informação, pelas novelas que nos impingem na televisão ou pelas mentiras que nos chegam através dos livros e dos jornais.... Temos de estar cada vez mais "vigilantes".
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JOSÉ FLÓRIDOREFLEXÕES Histórico
Março 2017
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