Temos feito, durante estas Reflexões, diversas referências ao Zen, pelo que alguns Amigos revelaram interesse em conhecer melhor os seus ensinamentos. Não temos, contudo, a pretensão de os esclarecer completamente. Mas, como também não queremos recusar o seu pedido, apresentamos uma pequenina nota histórica: O Zen teve origem na China, no século VI, como um encontro entre o Budismo indiano e o Taoismo, realçando a importância da meditação em detrimento do ensino, como sendo o caminho mais curto e mais rápido para se alcançar a Iluminação. Diz-se que o Zen constitui, na sua essência, o Alfa e Ômega do Budismo. E, neste aspeto não é uma escola budista. É o próprio Budismo.
O Dr. Suzuki, considerado a maior autoridade neste assunto, afirma que "nós não vivemos através do Zen", "vivemos o Zen". Que pretende ele dizer com isso? Ele pretende dizer que o Zen permeia toda a nossa vida, mas nós não estamos conscientes desse facto. Todas as nossas experiências diárias são, efetivamente, experiências do Zen, mas nós não reconhecemos isso. Que devemos então fazer para "vivermos através do Zen"em lugar de "vivermos o Zen"? Devemos tomar consciência do Zen na nossa vida. E isso transformar-nos-á imediatamente, porque reconheceremos que os factos mais simples têm todos uma profunda significação espiritual. Eis um exemplo: "Ryutan Shin permaneceu com Tenno durante três anos, sem que tivesse recebido, aparentemente, qualquer instrução relativa ao Zen. Surpreendido, interrogou Tenno sobre o motivo por que não tinha recebido instrução. E Tenno, então, respondeu do seguinte modo: "Quando me trazes chá, eu não bebo? E quando me trazes comida, eu não a aceito?" O Zen resume-se, de certo modo, a isto: "Tomar consciência dos atos mais simples da nossa vida, atribuindo-lhes uma profunda significação espiritual. É isso que significa "viver através do Zen". Os animais "vivem o Zen", mas nunca podem viver "através do Zen". Só o homem tem essa possibilidade. Portanto, dizer que o Zen é irracional é uma afirmação que se ajusta ao cão, mas não se ajusta ao homem. Porque, relativamente ao homem, o Zen é "supra racional", transcendendo a sua habitual "lógica" de pensar, e situando-se no nível em que "a vida deixa de ser um mistério para ser compreendido para ser um mistério para ser vivido". Devo no entanto sublinhar que não é minha intenção priveligiar o Zen em relação a qualquer outra expressão de espiritualidade. Acima de tudo está a Verdade; e sei bem que a Verdade não está contida exclusivamente numa determinada escola, via ou em certa "linha" de pensamento, como às vezes se diz. A Verdade tem de ser universal, mas cada um de nós deve escolher a via de acesso que mais lhe convém. Para terminar, não deixo de referir o que pensava o Mestre Agostinho da Silva a respeito do Zen. Numa conversa com ele, disse-me a determinada altura que tinha realmente muita simpatia pelo Zen. E esclareceu a razão: "O Zen aproxima-se muito daquilo que eu considero ser a mística do Espírito Santo. É talvez o seu equivalente oriental..." Oportunamente, terei de falar sobre este assunto, especialmente para os admiradores de Agostinho da Silva que não tenham ainda compreendido muito bem a importância que ele atribuia a essa forma de espiritualidade,
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JOSÉ FLÓRIDOREFLEXÕES Histórico
Março 2017
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