Temos de saber organizar o pensamento, a fim de que este se transforme numa força positiva e criadora; porque aquilo em que acreditamos pode de facto tornar-se realidade. E, nesse aspeto, a imaginação desempenha também um papel muito importante.
De início, tem de haver da nossa parte um esforço consciente, com o objetivo de criarmos imagens mentais, no sentido daquilo que desejaremos ver concretizado. Primeiramente, repousemos a mente, deixando-a permear pelo poder do Universo. Criemos, em seguida, uma imagem mental nítida e positiva, que pode ser, por exemplo, a imagem de um espaço amplo, à nossa frente, por onde avançamos com tranquilidade, segurança e determinação, em direção a uma luz imensa. Podemos também imaginar a presença de obstáculos que vamos removendo, à medida que prosseguirmos a nossa marcha. Mas, infelizmente, devido às nossas fraquezas e limitações, estamos criando continuamente imagens de medo, de insegurança e de derrotismo. Precisamos, por isso, - nunca é demais dizê-lo - de manter uma atitude de permanente "vigilância". Mas, organizar o pensamento exige também que não descuremos a linguagem. O pensamente necessita do seu apoio. Porque a palavra pode promover ou degradar o ser humano; pelo que os erros e as imprecisões da linguagem, sedimentando-se no nosso ser, tenham consequências nefastas na organização e no funcionamento da nossa vida psíquica. É por esse motivo que o estudo da língua materna desempenhou sempre uma função importantíssima, verificando-se até que a decadência da vida social, em todos os seus aspetos, está intimamente relacionada com a degenerescência da linguagem. Do exercício correto da linguagem, depende o exercício correto do pensamento. E como é o pensar que precede o agir, conclui-se que não pode haver ação correta sem que haja primeiramente pensamento correto. Contudo, somos bombardeados, a todo o instante, por uma linguagem decolorida, confusa, agressiva e, muitas vezes até, animalesca, por estar mais próxima dos uivos e dos grunhidos do que dos sons articulados das palavras que nos promoveram à condição de seres racionais. E, para ilustrar esta ideia, aqui deixamos esta história engraçada: "Um sargento explicava aos recrutas como deviam carregar a espingarda: "Puxa-se a culatra e mete-se o cartucho". E todos os instruendos eram obrigados a repetir essa frase; "Puxa-se a culatra e mete-se o cartucho". Porém, um dos soldados, por ser talvez mais lerdo de ideias, não era capaz de dizer "cartucho". Dizia sempre "catrucho". O sargento estava impaciente e ,sem desistir, obrigava-o, incessantemente, a dizer corretamente "cartucho". Mas em vão. O homem não conseguia. E repetia sempre: "Catrucho"... catrucho...catrucho... Era uma cena ridícula, que se foi prolongando ate despertar a atenção de um capitão que por ali passava... - Que se passa aí, nosso sargento? - perguntou o capitão. - Ah, meu capitão... este homem dá comigo em doido. Por mais que eu o ensine, não é capaz de dizer "cartucho". Diz sempre "catrucho". Já não sei que fazer... - Ora, não se preocupe, sargento. Fique aí o tempo que for preciso. Vai ver que ele acabará por aprender. Mas a cena repetiu-se. Não só uma vez; mas muitas vezes. O sargento já estava esgotado e enfurecido... E o recruta repetia sempre: "Catrucho"... "catrucho"...catrucho"... Algum tempo depois, passou novamente o capitão e perguntou: - Então, nosso sargento? O homem já aprendeu? Já é capaz de se expressar corretamente? - Já, sim, meu capitão. Já é capaz de dizer "catrucho"! De facto, se não tivermos cuidado, se não estivermos atentos à influência que as palavras exercem na nossa vida, acabaremos todos, sem exceção, por dizer "catrucho". Parece que ninguém se vai salvar. Nem os alunos, nem os professores, nem os jornalistas, nem os governantes...
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JOSÉ FLÓRIDOREFLEXÕES Histórico
Março 2017
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