O Labirinto é, na sua origem, o palácio do rei Minos, em Creta, onde se encontrava o Minotauro, monstro fabuloso que foi morto por Teseu. Este, porém, só conseguiu sair dali com o auxílio do fio orientador de Ariadne.
Tudo isso tem, no entanto, um significado muito profundo, Mas, por ora, o que nos interessa sobretudo evidenciar é o facto do Labirinto ser um símbolo da nossa própria vida. Pois, o difícil percurso, constituído por caminhos que confusamente se cruzam e se entrelaçam, representa o nosso processo de busca interior e a complexidade das experiências por que temos de passar antes de nos conhecermos a nós mesmos. Retrocedemos muitas vezes e mudamos de sentido e de direção. E há muitos sinais que não sabemos interpretar. E assim, o Labirinto revela-nos um percurso que não é direto. Mas, os erros que cometemos até achar a saída, apesar de serem praticamente inevitáveis, não constituem uma fatalidade irremediável. Ao fazermos referência ao Labirinto, ocorre-nos a história da "Bela Adormecida". Todos a conhecem certamente. Quando era criança, gostava muito de a ouvir contar. Nela há diversos intervenientes: Uma princesa que dorme; um príncipe que a procura incessantemente; e um terrível dragão, que o príncipe terá de vencer com a espada do Amor e da Verdade, se quiser ter acesso ao lugar onde dorme a princesa. Mas há um significado profundo nesta história: O príncipe representa o "buscador" que há em todos nós, sempre à procura da saída do "labirinto"; a princesa é a nossa alma adormecida, mergulhada no sono da ilusão, inconsciente da verdade mais íntima que há dentro de si; e o dragão representa as forças que se opõem ao despertar da alma. Isto é, os nossos defeitos, vícios e ilusões... Contudo, o príncipe, que há em nós, na maior parte das vezes, nem sequer se apercebe de que existe uma princesa adormecida à sua espera. Então, ele a procura, mesmo sem saber, por caminhos ínvios, capazes até de o conduzir ao vício e ao crime. Procura-a inconscientemente. Mas, desse modo, a princesa continua adormecida, sem esperança que a venham despertar... Chegará porém o dia em que o príncipe toma consciência da existência da princesa. Do seu encontro com ela, depende a saída do labirinto. Enfrenta então todos os perigos e resolutamente caminha em direção ao local onde a princesa dorme. Mas é preciso vencer o Mal que há dentro de si. Tem de vencer o terrível dragão com a espada do Amor e da Verdade. O combate é tremendo. Mas, o príncipe acaba por sair vitorioso. E, após a vitória, descobre este facto surpreendente: Vê que a princesa esteve sempre consigo. Nunca o abandonou. E o beijo que a desperta é, no fundo, a reconciliação consigo próprio e o despertar da sua alma. Enfim, a saída do labirinto. Talvez o leitor possa agora encontrar alguma relação entre aquilo que se acabou de dizer e este poema admirável de Fernando Pessoa: "Conta a lenda que dormia Uma princesa encantada A quem só despertaria Um Infante que viria De além do muro da estrada. Ele tinha que, tentado, Vencer o mal e o bem, Antes que, já libertado, Deixasse o caminho errado Por o que à Princesa vem. A Princesa Adormecida Se espera, dormindo espera. Sonha em morte a sua vida, E orna-lhe a fronte esquecida, Verde, uma grinalda de hera. Longe, o Infante, esforçado, Sem saber que intuito tem, Rompe o caminho fadado, Ele dela é ignorado, Ela para ele é ninguém. Mas cada um cumpre o Destino - Ela dormindo encantada, Ele buscando-a sem tino Pelo processo divino Que faz existir a estrada. E, se bem que seja obscuro Tudo pela estrada fora, E falso, ele vem seguro, E, vencendo estrada e muro, Chega onde em sono ela mora. E, ainda tonto do que houvera, À cabeça, em maresia, Ergue a mão e encontra hera, E vê que ele mesmo era A Princesa que dormia. Fernando Pessoa Sim... Ele mesmo era a Princesa que dormia!
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JOSÉ FLÓRIDOREFLEXÕES Histórico
Março 2017
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