O grande sábio Lao Tse, servindo-se do simbolismo da "roda do carro", disse que "trinta raios convergiam para o centro, mas que era o centro do carro que fazia avançar a roda". Pretendeu mostrar desse modo que tem de haver equilíbrio entre o centro e a periferia da roda, e que sem um "centro imóvel" a roda não pode mover o carro.
O centro da roda permite-nos compreender melhor a importância da "contemplação" e da "meditação". Assim, do mesmo modo que o "centro" é indispensável ao movimento da roda, também a vida meditativa e contemplativa, apesar de ser "não ativa" é o "centro" e o fundamento da "vida ativa". Há um episódio muito significativo no Evangelho que confirma o que se acabou de dizer: "Quando iam no caminho, Jesus entrou numa aldeia, e uma mulher, de nome Marta, recebeu-O em sua casa. Tinha ela uma irmã, de nome Maria, a qual se sentou aos pés de Jesus, escutando a Sua palavra. Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços e, aproximando-se de Jesus, disse: "Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe só a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar." Jesus respondeu-lhe: "Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas, apenas uma é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada". (Lucas, 38-41) As atitudes contemplativa e meditativa são representadas por Maria; mas, a atitude ativa é representada por Marta. Ora, Jesus disse que Maria "escolheu a melhor parte", porque ela ouviu as palavras do Mestre muma atitude meditativa e comtemplativa. Marta, pelo contrário, estava agitada e perturbada. E o que Jesus censurou em Marta não foi propriamente a ação, mas a perturbação, porque ela andava muito atarefada e a sua atividade não era orientada pelo centro meditativo. Ora o mesmo acontece com muitos de nós. Andamos agitados, perturbados, confusos, porque a nossa atividade não está geralmente fundamentada numa atitude meditativa e contemplativa. Só quando a ação provém do centro meditativo é que é realmente uma ação inspirada e criadora. Se isso não se verifica, há apenas confusão e desequilíbrio. O equilíbrio entre a Contemplação e a Ação tem de ser alcançado. Mas, enquanto não for alcançado, a Contemplação tem de preceder a Ação, porque a vida ativa deve ser uma consequência da vida contemplativa. A prioridade da Contemplação tem sido reconhecida, desde há muito, por notáveis pensadores: Aristóteles considerou-a a mais alta forma de "praxis" (atividade), mais alta ainda que a Política; S. Tomás de Aquino também afirmou que a vida contemplativa constituía a mais elevada expressão da atividade humana; e o Mestre Eckart declarou que a vida ativa só é salutar quando expressa as necessidades fundamentais do indivíduo. Oportunamente, em contextos diferentes, voltaremos a abordar este tema da Contemplação e da Ação
0 Comentários
Enviar uma resposta. |
JOSÉ FLÓRIDOREFLEXÕES Histórico
Março 2017
Categorias
|