Gurdjieff, a fim de que os seus discípulos se mantivessem sempre "vigilantes", dizia-lhes para não se identificarem com coisa alguma. Aconselhava-os então a serem espetadores dos seus próprios atos. Se chorassem ou rissem, deveriam ser somente "testemunhas" do seu choro ou do seu riso. Sem qualquer espécie de identificação. E costumava dizer: "Observe a ganância, observe o sexo, observe a cólera... mas não se identifique com esses sentimentos. Seja apenas uma testemunha. Isso foi o que ele designou por "Quarto Caminho". Mas, porquê "Quarto Caminho"? Porque, segundo Gurdjieff, há quatro caminhos que conduzem à realização humana, tendo, cada um, o sem método e objetivo específicos:
O primeiro Caminho é o do "faquir", cujo objetivo consiste em se alcançar o domínio do corpo físico; O segundo é o do "monge", que é trilhado mediante a prece e o culto, com longos períodos de meditação; O terceiro é o do "iogui", que visa o conhecimento e a compreensão, através dos níveis mais elevados do intelecto; O quarto não considera o progresso espiritual como fuga da vida. Vê em todos os acontecimentos oportunidades para elevar e expandir o nosso estado de consciência. Por isso, este "Quarto Caminho" exige o cultivo de um estado permanente de "vigilância" em relação a todas as oportunidades que nos são oferecidas. Nós devemos, portanto, estar atentos a todos os "sinais" e as todas as mensagens que nos chegam. Mas devemos também - e isso é particularmente importante - desenvolver o discernimento, no sentido de sermos capazes de interpretar corretamente esses sinais e essas mensagens. Com a finalidade de melhor comunicar as suas ideias, Gurdjieff fundou, perto de Fontainebleau, o Instituto de Desenvolvimento Harmonioso do Homem, cujo objetivo era a união do pensamento, do sentimento e da atividade física. Muitas vezes, usava processos pouco ortodoxos para despertar a consciência dos seus discípulos. Assim, durante as refeiçoes, fazia palestras e brindava alguns membros, atribuindo-lhes (com um ar muito sério), muitos tipos de "idiotias": A uns, chamava "idiotas redondos"; a outros, "idiotas quadrados"; a outros ainda, "idiotas compassivos". E por aí fóra... Havia, portanto, idiotas de todas as variedades. E, por muita estranheza que cause ao leitor, tudo isso era dito com o fim de desintoxicar padrões de comportamento, fixados pela moral convencional. Dizia habitualmente: "Vocês não percebem a vossa própria condição. Vocês estão numa prisão. Se forem realmente sensíveis à vossa situação, tudo o que mais desejarão, com certeza, é fugir! Mas, para fugir, é preciso cavar um túnel sob uma parede. Ora um homem sozinho não pode fazer nada... Mas, vamos supor que esse homem não está só... Vamos supor que estejam com ele dez ou vinte homens... Se eles trabalharem em grupo, e se cada um encobrir o outro, podem completar o túnel e fugir." Meditemos no sentido desta mensagem. Mas, o traballho em grupo só é realmente eficiente quando passa primeiramente pelo trabalho individual, isto é, pelo contributo que cada um de nós, individualmente, possa dar. Infelizmente, porém, nem sempre se verificam essas condições. Não raramente, o coletivo tende para a "homogeneidade", excluindo ou absorvendo a iniciativa individual, mesmo que essa iniciativa possa contribuir para um maior enriquecimento do grupo. Enquanto não aprendermos a "escutar", o verdadeiro trabalho em grupo não é possível. Estamos somente atentos aos nossos pensamentos e às nossas palavras... Ouvimo-nos apenas a nós próprios. E, ainda que se reconheça a necessidade de uma "abertura" ao diálogo, constatamos facilmente que o diálogo não passa geralmente de uma esgrima de argumentos onde os falantes se escondem por detrás de cortinas ideológicas. Se, por um lado se exige cada vez mais a"pluralidade",por outro lado, também se tem de exigir uma "Unidade" cada vez mais profunda.
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JOSÉ FLÓRIDOREFLEXÕES Histórico
Março 2017
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