a "Orar e vigiar" é uma das mais importantes mensagens do Evangelho cristão. Mas, esta mensagem esteve também sempre presente no pensamento e na doutrina de todos os verdadeiros Mestres. Disse Heraclito de Efeso (540 ou 480 a. C.):
"Os homens são tão esquecidos e desatentos, nos seus momentos de vigilância sobre o que se passa à sua volta, como o são durante o sono. Os tolos, embora oiçam, são como surdos. A eles é aplicado o provérbio de "sempre presentes mas sempre ausentes". (...) Os vigilantes possuem um mundo em comum, mas os que dormem têm, cada um, um mundo privado. Aquilo que vemos, quando despertos, é a morte. Quando adormecidos, vemos os sonhos." "Os vigilantes possuem um mundo em comum. Mas os que dormem têm, cada um, um mundo privado". Meditemos nestas sábias palavras. E, a pouco e pouco, níveis mais elevados de consciência se vão desvelando... Porque estamos perante uma questão de fundo: "A verdade é só uma para os que estão "despertos"; porém, há muitas "verdades" para os que "dormem". Mas, que pretende dizer Heraclito com o facto dos "despertos "terem a visão da "morte", enquanto os outros vêem somente os sonhos? É que quem está "desperto", (no sentido que está a ser atribuído a esta palavra), não vive num mundo de ilusões. Sabe que a vida física é limitada e, só por ignorância ou estultícia, fazemos dela o nosso único objetivo. Receamos olhar frontalmente para a morte, porque ainda não adquirimos a perspetiva mais elevada da vida, que consiste em compreender que a morte e a vida fazem parte do mesmo jogo. São irmãs inseparáveis. São interdependentes. Por isso, ver a morte não é, como se possa pensar, à primeira impressão, cair num estado mórbido de angústia e de tristeza. Ver a morte é vencer o medo de enfrentar o desconhecido e o mistério da própria Vida, a fim de se alcançar a libertação e a Consciência Também os ensinamentos de Buda insistem na necessidade de "Vigilância". E, em termos semelhantes aos de Heraclito, se diz no "Dhammapada": "A vigilância é a direção para a Vida. O tolo dorme como se já estivesse morto. Mas o Mestre está desperto e vive para sempre. Ele observa; Ele é puro. Como Ele é feliz! Pois, Ele vê que vigilância é vida. Como Ele é feliz, seguindo o caminho dos despertos. Com grande perseverança, Ele medita em busca da liberdade E felicidade." Perante a convergência destes dois textos (o de Heraclito e o de Buda) é ou não verdade que os "despertos" têm um mundo em comum? O tema do sono e do sonho é no entanto comum a todas as tradições. Jesus advertia frequentemente os seus discípulos da necessidade de "orar e vigiar" e, por diversas vezes, disse que os encontrara "dormindo". E nesta mesma ordem de ideias, também o Mestre Chuang Tzu costumava dizer que certa noite sonhara que era uma borboleta. E, de manhã, ao acordar, tomou consciência de que não era nenhuma borboleta, mas, sim, Chuang Tzu. Contudo, como sabia que a vida não passa de um sonho e que, pelo facto de acordarmos de manhã, não deixamos de continuar a dormir e a sonhar, limitou-se a dizer: "Afinal, não sei se foi Chuang Tzu que sonhou que era uma borboleta ou se é, agora, a borboleta que está a sonhar que é Chuang Tzu..."
0 Comentários
Enviar uma resposta. |
JOSÉ FLÓRIDOREFLEXÕES Histórico
Março 2017
Categorias
|