A ideia que os Mestres Zen nos pretendem comunicar é a de que a resposta ao problema fundamental da vida é tão evidente que não há necessidade de se procurar uma explicação. Esta evidência, porém, só é sentida como evidência, após uma longa "viagem", ainda que ilusória, até findar, em nós, o processo de busca. Afinal, talvez a resposta esteja tão próxima, tão próxima de nós, que se identifique mesmo com a própria pessoa que a procura. Contudo, raramente temos consciência desse facto. E continuamos a procurá-la:
"Toda a gente ficou surpreendida quando viu Nasruddin Hodja montado no seu burro, indo quase a galope pela aldeia. - Para onde vais? - perguntou alguém. E ele, sempre montado no seu burro, respondeu: - Vou à procura do meu burro." Segundo os Mestres Zen, o estado de Iluminação é tudo quanto há de mais simples. E esperar por ele é nunca o alcançar. Disso nos dá testemunho Bodhidharma, que no século VI trouxe o ensinamento Zen da Índia para o Japão: "Nenhum discurso pode revelar ou formular a natureza do espírito quando foi compreendida por ele. Esperar a Iluminação nada representa. E quem espera não se refere a ela." De acordo com o Zen, a Iluminação não é um objetivo que deva ser alcançado. É a vida vulgar, a vida mais simples, que se apresenta imensamente bela quando não queremos ser protagonistas dos nossos atos nem existe conflito dentro de nós. O Mestre Zen, Hakuin, ao atingir a Iluminação, exclamou: "Oh, admirável maravilha: Eu corto lenha! Eu tiro água do poço!" Talvez o que se acabou de dizer contribua para melhor compreender estas palavras de Buda: "É preciso uma longa viagem para se chegar ao viajante".
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JOSÉ FLÓRIDOREFLEXÕES Histórico
Março 2017
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