Provavelmente, houve muitos santos que não foram canonizados, nem nunca o serão certamente, porque, na realidade, não chegaram a fazer "milagres" ou, porque se os fizeram, passaram completamente despercebidos, embora pudessem revelar a santidade do Amor e do espírito de serviço até ao limite das suas forças para com aqueles que necessitavam do seu auxílio. Mas, o oposto também tem acontecido: Houve, com certeza, outros que foram canonizados apenas por supostos "milagres" que, afinal, nunca aconteceram, porque a ciência, mais tarde, provou que se deviam a causas absolutamente naturais.
A palavra "milagre", como já tive oportunidade de dizer, deriva do termo latino "mirabilia", que significa propriamente "aquilo que é digno de ser visto". Neste sentido, há muitas coisas que são dignas de serem vistas, podendo, por isso, serem considerados "milagres", como, por exemplo, o nascimento de uma criança ou o segredo de uma pequenina semente, potencialmente capaz de se transformar numa árvore gigante. Só não são considerados "milagres", porque o milagre, para nós, é sempre algo que está relacionado com factos sobrenaturais, ainda que não me pareça sempre fácil distinguir o natural do sobrenatural. Mas, vamos ver como é que a Tradição gnóstica ortodoxa analisa este assunto: Do seu ponto de vista, o milagre consiste na interferência de leis de um Cosmos superior no nosso Cosmos. E essa interferência deve-se muitas vezes, por razões difíceis de explicar, à presença de um agente catalisador. Neste caso, Alguém, em que o elevado nível de realização espiritual possibilite essa interferência e, consequentemente, a efetivação de um facto extraordinário. Isso significa que, no fundo, as leis subjacentes ao milagre são leis do Universo, do mesmo modo que as leis da natureza terrestre também o são. Mas, porque as desconhecemos, não as sabemos explicar nem interpretar. Impõe-se, no entanto, um melhor esclarecimento. E, por isso, retomamos uma questão que já foi por nós abordada. Segundo a Tradição gnóstica, o Macrocosmos é composto por sete Cosmos, correspondendo às sete notas musicais, e constituindo aquilo que se designa pela Grande Oitava cósmica do nosso Raio de Criação: - Protocosmos - correspondente ao DO ("DOminus" - Deus. Criador do Universo); - Aghiocosmos - correspondente ao SI ("SIdereus orbis" - O mundo sideral. Conjunto de todos os mundos); - Megalocosmos - correspondente ao LA ("LActeus orbis" - Via Láctea); - Deuterocosmos - correspondente ao SOL ("SOl" - A nossa estrela); - Mesocosmos - correspondente ao FA ("FAtum" - O mundo planetário, em relação ao qual a Astrologia tem atribuído o Fado ou destino da humanidade); - Tritocosmos - correspondente ao MI ("MIxtus orbis" - A Terra, onde se verifica a "mistura" do Bem e do Mal); - Tessarocosmos - correspondente ao RE ("REgina astris" - A Lua. Regente do destino, segundo os antigos). Esta é a Oitava descendente ( do Absoluto para o homem). Mas há também a Oitava ascendente (do homem para Deus). E neste caso, o DO inicial é substituído pelo UT (antiga nota musical DO). UT vem de "Uterus", porque o "útero" representa a porta do nascimento segundo a carne. Partindo do DO inicial, o divino poder criador manifesta-se através dos sete escalões referidos, e a Lei universal, que se expressa univocamente no primeiro escalão (Protocosmos), ramifica-se progressivamente, à medida que vai decorrendo o processo descendente através dos outros escalões do nosso Raio de criação. Cada Cosmos tem, porém, as suas próprias leis. Mas, não deixa de exercer, numa relação de contiguidade, a sua influência sobre os outros. E, por vezes, como já assinalámos, há uma interferência das suas leis. No nosso Cosmos, essa interferência pode ser causada pela presença de uma consciência mais elevada, como a de Cristo ou de Buda, verificando-se então fenómenos que a ciência, por enquanto relacionada somente com as leis do Cosmos terrestre (o Tritocosmos), não consegue explicar. Não estamos, evidentemente, perante um assunto de fácil entendimento. Mas, não creio que se deva maximizar o "milagre". E atribuir aos grandes Mestres da humanidade o conceito de "milagreiros" é, a meu ver, minimizá-los. Por certo, há ainda muito mais a dizer. E todos temos o direito e o dever de nos questionarmos sobre este assunto. Será portanto aceitável a explicação apresentada pala Tradição gnóstica ortodoxa? Será mesmo essa a génese do milagre?
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JOSÉ FLÓRIDOREFLEXÕES Histórico
Março 2017
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