O equilíbrio cósmico tem de ser sempre restabelecido. Mas voltamos a perguntar: O homem tem, por isso, de colher sempre aquilo que semeou? Evidentemente que o princípio segundo o qual "o homem há de colher aquilo que semeou" está certo. Mas, não o devemos interpretar numa perspetiva demasiadamente literal, porque existe sempre a possibilidade do "perdão" e, portanto, da remissão do pecado. Isso pode alterar, em certa medida, o princípio enunciado. Além disso, um ato socialmente reprovável pode não o ser de um ponto de vista mais elevado. De modo idêntico, um ato aprovado socialmente pode não o ser segundo a Lei do Universo. Os factos não são portanto aquilo que aparentam ser. A realiddade obedece a uma Lógica diferente da nossa "logica". É por isso que devemos ter a humildade suficiente para reconhecermos a nossa ignorância perante a Verdade. Esta transcende sempre o nosso entendimento. De acordo com este ponto de vista - o da Lógica do Universo - o "homem nem sempre colhe o que semeou". Vamos esclarecer: A Lei do Karma (a que nos referimos na Reflexão antecedente) é completada por outra Lei universal, a Lei da Graça, que parece às vezes contradizer a Lei do Karma. Consideremos, por exemplo, o seguinte facto: Alguém rejeita um filho, não querendo assumir a maternidade ou a paternidade. Como irá atuar a Lei do Karma nessas circunstâncias? Ora, se "colhemos aquilo que semeamos", isso significa que essa pessoa, que recusou egoisticamente a maternidade ou a paternidade, vai passar pela mesma experiência. Mas, quando é que vai passar por essa experiência? Nesta vida já não será possível. Mas, de acordo com o conhecimento que se tem da reencarnação, essa experiência será vivida numa existência futura. Quer dizer, os seus futuros pais rejeitá-la-ão do mesmo modo. Pois, "Quem com ferro mate com ferro morre", diz também a sabedoria popular. Essa é, de facto, a perspetiva dos que defendem de uma forma fundamentalista este princípio. Esta é a Lei do Karma (ou Lei da Causa e Efeito) que exige que o equilíbrio tenha de ser restabelecido. De facto, se alguém egoísticamente rejeita um filho, cria um desequilíbrio moral que implica uma resposta equilibradora correspondente ao seu procedimento. E essa resposta (segundo o ponto de vista dos que defendem de modo fundamentalista a Lei di Karma) consiste no facto dessa pessoa ter de passar por uma experiência "obrigatoriamente" semelhante àquela que provocou na outra pessoa. Mas será sempre assim? Não poderá haver alternativa? Não poderá ser de outra forma? Não poderá haver outra maneira de restabelecer o equilíbrio? O problema centra-se no "equilíbrio". A Ordem do Universo exige somente que o Equilíbrio se estabeleça. Não pretende "vingar-se" ou "castigar", naquela sentido àquele que nós, humanos, atribuímos à vingança ou ao "castigo". A Lei universal exige apenas que o Equilíbrio se restabeleça. Essa é a única condição. Portanto, se houver outra forma de restabelecer o equilíbrio, essa forma não poderá ser aceite? Com certeza que pode ser aceite. Ora, em relação ao exemplo apresentado, cremos ser possível restabelecer o "equilíbrio" de outro modo: Assim, a pessoa que rejeitou o filho não terá "obrigatoriamente" de passar, numa vida futura, pela mesma experiência. Poderá até vir a desempenhar uma função prestigiosa e gratificante. Poderá ser, por exemplo, presidente de uma instituição destinada a apoiar crianças abandonadas... Porquê esta "aparente" injustiça? Esta "aparente" injustiça deve-se à intervenção da Lei da Graça, em situações em que o pecador se arrepende sinceramente dos atos que cometeu e deseja reparar os seus erros. Porém- é importante assinalar - se o arrependemento não for sincero, o equilíbrio será reposto de outra forma, sendo praticamente inevitável que o pecador venha a passar pela mesma situação que causou aos outros. Mas não devemos ver nisso, repetimos, qualquer punição. Para a Lei do Universo interessa somente a reposição do Equilíbrio. A Graça apoia-se, porém, na Justiça. Disse S. Teófano que "a Graça divina não atua sobre nós se não fizermos esforços para obtê-la". E disse ainda que "o êxito se alcança pela conjugação de esforços e da Graça. A Graça (em sânscrito "Daya") é comparável à água destinada à irrigação dos campos que se encontra já nos canais, mas que é parada pelas represas. Logo que o cultivador abre a represa, a água escoa-se devido ao seu peso. A Graça divina exerce sobre nós uma pressão constante. Diz o Evangelho: "Estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz, eu entrarei e cearei com ele e ele comigo" (Apoc.III, 20). Mas, para isso, nós temos de abrir a porta. A iniciativa de abrir a porta tem de ser nossa.
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JOSÉ FLÓRIDOREFLEXÕES Histórico
Março 2017
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