Diversas histórias têm ilustrado a importância do equilíbrio na nossa vida. e se bem que na época em que nos encontramos, as parábolas devam, de certo modo, ser substituídas pelo raciocínio discursivo, isso não significa que sejam excluídas do processo de comunicar determinadas ideias. Neste sentido, solicitamos ao leitor que medite no significado das histórias que vamos apresentar seguidamente:
Atravessar o precipício "Conta-se que dois homens, acusados de terem cometido um crime, foram presentes ao rei que decidiu sujeitá-jos à seguinte prova: Mandou esticar uma corda sobre um precipício, para que, andando sobre ela, conseguissem atravessá-lo. Se alcançassem a outra margem do abismo (propôs o rei) não seriam punidos pelo crime. Depois do primeiro homem ter feito a travessia a salvo, o outro, antes de fazer a mesma prova, perguntou-lhe como conseguira atravessar e menter o equilíbrio. E este limitou-se a responder: "A única coisa que te sei dizer é que sempre que me sentia tombar para um determinado lado, inclinava-me para o outro". Tudo parece simples. Mas temos de ser nós próprios, mediante a experiência e a meditação, que temos de descobrir a fórmula mágica do nosso próprio equilíbrio. Qualquer indicação exterior, se bem que possa ser útil, é sempre insuficiente.
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O Universo está em equilíbrio dinâmico. Não em equilíbrio estático. Mas num equilíbrio em ação, entre forças centrífugas e forças centípetas. Os planetas gravitam em torno das estrelas que, por sua vez, gravitam em redor de outros centros mais poderosos. E assim por diante, até se chegar, certamente, a um Centro Imóvel, à volta do qual todos os sistemas planetários e todas as galáxias gravitam. Sem esse Centro equilibrador, tudo se desagregaria. O equilíbrio é, portanto,uma lei universal. No Universo, como na natureza em geral, tudo procura o equilíbrio: a onda no oceano. o nível de um líquido contido em vasos comunicantes, a temperatura dos corpos em contacto, etc. E em relação ao ser humano e a todos os outros seres vivos, o estado de saúde assinala o equilíbrio físico e psíquico, sendo a dor uma advertência da necessidade de restabelecer o equilíbrio, desencadeando-se então, dentro de nós, um processo de busca de novos valores. É evidente que conseguir manter o equilíbrio em todas as situações da nossa vida não é fácil. É mesmo praticamente impossível. Exige uma sabedoria imensa que raramente está ao nosso alcance. As interessantes histórias que vamos apresentar a seguir ilustram a importância que devemos atribuir ao equilíbrio e ao modo de o obter: Isto também há de passar! "Conta-se que um rei poderoso, senhor de muitos domínios, sentia-se, apesar disso, muito infeiz e intranquilo. Decidiu por isso consultar um dos seus sábios, a fim de que este lhe dissesse como deveria restabelecer o equilíbrio espiritual em qualquer situação em que se encontrasse. O sábio, depois de refletir no que o rei pretendia, entregou-lhe um anel, dentro do qual estava gravada uma frase que só deveria ser lida quando o rei se encontrasse numa situação de grande tristeza ou de imensa alegria. Noutras circunstâncias, o rei n~~ao deveria abrir o anel para ler a frase. O monarca agradeceu e aceitou essas condições. Decorreram alguns anos. E o rei ainda não tinha aberto o anel, respeitando integralmente o que o sábio lhe dissera. Mas, um dia, a desgraça caiu no seu reino. O rei inimigo invadiu-o e destruiu tudo por onde passava com o seu poderoso exército. Morreram muitas pessoas. e o rei perdeu não só toda a sua riqueza como também os familiares e amigos. A sua dor era indiscritível! Foi então que se lembrou do anel e do que o sábio lhe havia dito. Abriu-o imediatamente e leu a mensagem que nele estava contida: Isto também há de passar! O rei compreendeu e serenou um pouco. Refletiu: Nenhum sofrimento é eterno e há de passar por maior que seja! E de facto passou. O inimigo, ao fim de algum tempo, retirou-se. E o rei, apesar de destroçado, conseguiu ainda reunir o que restava do seu exército e reconstruir o reino. Então, a prosperidade regressou e o monarca sentiu-se novamente feliz. Tudo começou a melhorar. A vida voltou a sorrir. O seu filho, o príncipe herdeiro, em breve ia casar e, quando chegou o dia do casamento, o rei exultava de felicidade, realizando um dos maiores sonhos da sua vida. Mas, quando a sua alegria parecia não ter limites, lembrou-se do que o sábio lhe dissera e leu novamente a mensagem contida no anel: Isto também há de passar! O rei ficou pensativo. Imediatamente a sua alegria deixou de ser tão entusiástica. O rosto tornou-se mais sério e mais sereno. Compreendeu então que tanto as grandes tristezas como as grandes alegrias não passam de ilusões que, mais cedo ou mais tarde, se desvanecem. Também a grande alegria que estava a sentir naquele momento teria de passar inevitavelmente. E, de facto, passou. Algum tempo, depois, o seu filho adoeceu. Era uma doença terrível, que os médicos não conseguiram diagnosticar. E acabou por morrer." A mão de Mokusen Mais esta esta história Zen: "Mokusen Hiki vivia num templo da província de Tamba. Um dos seus seguidores veio visitá-lo, a fim de se queixar da avareza da esposa. Depois de o ouvir com atenção, Mokusen decidiu visitar a mulher. Querendo saber a razão da sua avareza, Mokusen mostrou-lhe o punho da mão fechado e perguntou: - Se a minha mão estivesse sempre assim, fechada, o que dirias? - Diria que ela estava deformada, disse a mulher. Mokusen abriu então a sua grande mão e perguntou agora: - E se ela estivesse sempre aberta, o que dirias? - Diria que era outra espécie de deformação, respondeu a mulher. - Ora, se tu compreendes isso, és uma boa esposa. A partir desse dia, a mulher ajudou o marido tanto a despender dinheiro como a economizá-lo." Meditai agora no equilíbrio que deve existir entre "dar" e "receber". Dizer que o Universo precisa de nós poderá talvez surpreender o leitor. Mas, na realidade, nós fazemos parte do Universo. E, como células do corpo imenso do Macrocosmos, somos, por isso mesmo, necessários ao seu funcionamento, da mesma maneira que as células do nosso corpo, o Microcosmos, nos são indispensáveis.
De facto, tudo que existe encontra-se numa relação de interdependência. Houve até um poeta que disse que "quando colhíamos uma flor, havia sempre uma estrela que sentia". É uma imagem bonita. Mas não pertence apenas ao domínio da Poesia. Também o Budismo Mahayana afirma que no infinito "Dharmadhatu" (O Reino Universal ou Campo da Realidade) toda e qualquer coisa inclui simultaneamente todas as outras em perfeita integridade. Portanto, ver um objeto é ver ao mesmo tempo todos os outros e vice-versa. No Budismo Mahayana, o Universo é comparado a uma grande rede de jóias, onde o reflexo de uma jóia está contido em todas as jóias, e o reflexo de todas está contido em cada uma. Mas já se chegou mais longe. Chegou-se à revolução da ciência: Antes o mundo era considerado como se fosse uma gigantesca mesa de bilhar, onde todas as coisas estavam separadas e agiam como bolas de bilhar, chocando, às cegas, umas com as outras. Hoje, cientistas com Einstein, Schroedinger, Eddington,Bohr e Heisenberg abriram os horizontes da Física quântica e estabeleceram laços de profunda convergência com o que era apenas a vísão dos místicos, dos poetas e dos gnósticos. Enquanto a Física clássica de Newton estabelecia limites de separação entre os objetos, a Física quântica revela agora a interdependência entre todas as coisas. Há uma ordem inteligente no Universo. E tudo depende de tudo. É por isso que somos responsáveis por tudo o que pensamos e sentimos. Os nossos pensamentos e as nossas intenções podem afetar não só as mentes das outras pessoas mas também os seus próprios corpos: Li recentemente que no Hospital Geral de S. Franscisco, o Dr. Rodolph Byrd realizou uma experiência que demonstrou o poder da oração. Assim, um grupo de doentes foi alvo das orações de um grupo de voluntários, enquanto outro grupo não recebeu qualquer prece. Verificou-se então que o grupo por quem se rezou mostrou ter muito menos probabilidades de necessitar de antibióticos e apresentava menor risco de criar liquido nos pulmões do que o outro grupo. Por outro lado, nenhum dos elementos do grupo por quem se rezara precisou de ventilação artificial, ao contrário do que aconteceu com o outro grupo. Tudo depende de tudo. Por isso, por estranho que ainda possa parecer, o ser humano participa na vida universal, porque não está nem pode estar separado dela. Isso significa que, apesar do homem ser uma parte ínfima do Universo, desempenha a sua própria função no equilíbrio da vida do Macrocosmos. Assim, quando afirmamos que o Universo precisa de nós, queremos dizer que a nossa realização humano e o cumprimento da nossa função são necessários ao desenvolvimento e à expansão da vida universal. A harmonia do Universo só é alcançada quando cada elemento que o constitui , por mais ínfimo que seja, consiga atingir a sua própria harmonia. Meditai também na responsabilidade que nos cabe em relação ao desenvolvimento e à evolução dos reinos da natureza inferiores ao nosso... Insistimos mais uma vez na necessidade de desenvolvermos a capacidade crítica e pensarmos corretamente. Sem discernimento, não podemos entender as mensagens que chegam até nós e os segredos que o Universo nos pode revelar. A essa Ordem inteligente do Universo, costumamos às vezes chamar de Deus. Mas, qualquer ideia que tivermos a Seu respeito é sempre insuficiente. Está sempre a uma distância incomensurável da Realidade. Uns atribuem-Lhe um nome; outros limitam-se a dizer que se trata somente do Grande Anónimo. Por isso, prefiro silenciar e limito-me a aconselhar as outras pessoas a trabalharem sobre si próprias, no sentido de alcançarem um entendimento cada vez mais profundo da Harmonia e da Beleza universal.
Ramakrishna, para mostrar que a ausência de lucidez e de discernimento estava na origem do fanatismo religioso, servia-se da seguinte parábola: "Quatro cegos reuniram-se um dia para examinarem um elefante. O primeiro tocou na pata do animal e disse: "O elefante é uma coluna....." O segundo apalpou a tromba e disse: "O elefante é um rolo..." O terceiro tocou na barriga e disse: "O elefante é um grande tambor..." O quarto balançou a orelha do animal e declarou: "O elefante é como um grande abano..." Depois, começaram a discutir. Mas alguém que passava nesse momento perguntou-lhes a razão da discussão, tendo, por isso, os cegos pedido a essa pessoa para que fosse ela própria a decidir quem tinha razão. Então, ela disse: "Nenhum de vocês viu corretamente o animal. Ele não se parece com uma coluna, mas as suas patas são, de facto, duas "colunas". Ele não se parece com um abano, mas as suas orelhas são, de facto, como dois "abanos". Ele não tem a aparência de um rolo, mas a sua tromba é de facto como um "rolo". Ele não parece um tambor, excepto a sua barriga. Assim, o elefante é uma combinação de tudo isso: patas, tromba, orelhas e barriga..." É deste modo que discutem aqueles que viram apenas um aspeto de Deus. Nasruddin e os alfandegários
Mullah Nasruddin Hodja foi uma personagem lendária em todo o Médio Oriente, de quem diversos países reivindicam a nacionalidade. Trata-se, porém, de um sufi turco do século XVI. Dele se contam histórias muito engraçadas que correspondem a aspetos caricaturais da humanidade. Neste sentido, também a importância que costuma ser atribuída ao "milagre" foi objeto de uma caricatura. Vem, por isso, a propósito esta história: "Quando os guardas da alfândega viram Nasruddin a transportar algumas garrafas, perguntaram-lhe: - Que levas dentro dessas garrafas? - Água, respondeu Nasruddin. - Água?... Então, deixa-me provar, disse um dos guardas, desconfiado. O guarda cheirou, provou e, vendo que não era água, mas sim whisky, gritou, irritado: - Queres então enganar-me? Isto não é água. É whisky! Nasruddin não se desconcertou. Levantou os olhos para o céu e, com um ar muito piedoso, exclamou: - Senhor... mais um milagre!" Caminhar sobre a água Também Ramakrishna discordava da importância do aspeto espetacular do "milagre" e da realização de certos "prodígios". Conta-se, a propósito, que tinha um discípulo que, depois de realizar muitas práticas espirituais durante quarenta anos, lhe foi comunicar que já era capaz de caminhar sobre a água. Ramakrishna observou-o e disse: "E perdeste tu quarenta anos da tua vida para conseguires realizar apenas isso!" * A nosso ver, é ao Amor, e não ao milagre, que devemos atribuir maior importância. Contudo, isso não diminui o valor de certas curas prodigiosas, operadas por intermédio do Espírito de Jesus, porque, por detrás delas, estava a presença do Amor. Mas, o que mais nos deve impressionar foi o facto de continuar a amar os que o perseguiram e torturaram. Esse sim, foi o seu supremo Milagre, expresso nestas palavras abençoadoras: "Pai,perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem!" Dissemos, na anterior reflexão, que o milagre era uma interferência das leis de um Cosmos superior no nosso cosmos. Vamos agora estabelecer uma relação de analogia com o ser humano, para uma melhor compreensão deste assunto: O homem é considerado um Microcosmos,semelhante ao Macrocosmos. Contém também, em si mesmo, outros cosmos inferiores, sendo costume designar o cosmos correspondente aos milhões de células do nosso organismo por "Micro-microcosmos". Vamos supor agora que as nossas células, sendo invadidas por bactérias que lhes causavam uma infeção, não eram capazes de reagir ao invasor. A morte seria inevitável. Contudo, a ciência humana sabe que pode usar os antibióticos naquelas circunstâncias e, mediante a sua intervenção o organismo pode ser salvo, apesar das células não terem sempre, por si mesmas, a possibilidade de resistir. Ora, se as nossas células fossem dotadas de pensamento, não poderiam compreender o fenómeno (a intervenção do antibiótico) e diriam que estavam em presença de um milagre. "Como é que isto foi possivel? (diriam as células estupefactas). Nós íamos todas morrer; mas algo veio em nossa salvação!.." Ora, o que realmente aconteceu foi a interferência das leis do Microcosmos (o cosmos humano) num cosmos inferior: o Micro-microcosmos.
Um fenómeno que não pertence propriamente ao conhecimento científico, segundo cremos, é o da levitação em circunstâncias em que se está sujeito à lei da gravidade. Quando Jesus caminhava sobre as águas, esse facto foi e tem sido considerado como milagre. Mas, numa outra perspetiva, esse fenómeno acontece porque existem leis que desconhecemos. Em "Luzes do Oculto" (obra editada pelo Centro Lusitano de Unificação Cultural) podemos ler esta passagem: "Na Terra, o núcleo planetário é positivo e atrai toda a matéria circundante (...) Tudo no nosso planeta apresenta uma polaridade negativa em relação a esse centro. No entanto, existe uma energia mais poderosa do que o próprio núcleo, e que engloba e envolve a própria Terra. É uma energia intersideral, imponderável para nós e desconhecida pelos físicos. Pode ser manuseada e utilizada. Às vezes, os místicos conseguem absorver essa energia, resultando daí um contrabalanço em relação à força gravitacional". Relativamente ao que se acabou de dizer, fazemos referência ao "Voo Yóguico" praticado por certos místicos orientais durante a meditação. Como, quando tenho fome; bebo, quando tenho sede Vamos agora abordar este tema do "milagre", numa perspetiva diferente que, a nosso ver, não deve ser excluída: Do ponto de vista do Budismo Zen, o milagre é uma espécie de magia que não deve interessar muito a quem pretenda alcançar a Iluminação. Quando o Mestre Bankei pregava no templo de Ryumon, um sacerdote, Shinshu, que estava convencido que a salvação consistia na repetição do nome de Buda, quis entrar em polémica com Bankei, cheio de inveja por causa do seu numeroso auditório. Bankei estava nessa altura a falar, quando o sacerdote se apresentou, provocando uma tal desordem que obrigou Bankei a interromper o discurso. "O fundador da nossa seita - disse o sacerdote cheio de arrogância - tinha poderes tão miraculosos, que era capaz, sentado numa das margens do rio, de escrever, com um pincel, o santo nome de Buda, numa folha de papel que o seu criado colocava na outra margem do rio. Serás tu capaz de fazer uma coisa tão notável como esta?" Bankei respondeu: "Esse feito de magia não interessa ao Zen. O único milagre que eu faço é comer quando tenho fome e beber quando tenho sede"... Relativamente ao que dissemos sobre as notas musicais quando nos referimos à Grande Oitava cósmica, acrescentamos agora que cada uma dessas sete notas corresponde a uma determinada dimensão cósmica. Assim, se há sete notas musicais há também sete cosmos correspondentes, com frequências vibratórias diferentes e também com leis diferentes. A Tradição gnóstica ortodoxa atribui-lhes as seguintes designações: Protocosmos (correspondente ao DO); Aghiocosmos (correspondente ao SI); Deuterocosmos (correspondente ao SOL); Mesocosmos (correspondente ao FA); Tritocosmos (correspondente ao MI); Tessarocosmos (correspondente ao RE).
No seu conjunto, integram a totalidade do Universo, o Macrocosmos. Cada um tem, como acabámos de dizer, a sua frequência vibratória e as suas próprias leis. Podem, no entanto, comunicar entre si, constituindo uma unidade, que é, como já dissemos, o Macrocosmos. Assim,se conseguirmos ter acesso às leis que presidem e orientam um Cosmos superior ao nosso (o Tritocosmos), podem ocorrer fenómenos imprevistos, a que costumamos chamar "milagres". Trata-se portanto da interferência de Leis por nós desconhecidas e que, por isso mesmo, transcendem o nosso entendimento. Mas,em relação às leis que são do nosso conhecimento, não consideramos nenhum facto determinado por essas leis como milagroso. Contudo, se refletirmos um pouco, verificamos que há "milagres" por toda a parte: Se lançarmos uma pequena semente à terra,e ela, alguns anos depois, se transformar numa árvore gigantesca, não vemos nisso nada de milagroso. Porque, para nós, trata-se de um facto vulgar, inteiramente normal. Ninguém diz que se trata de um "milagre". Porém, numa certa perspetiva, não deixa de ser um "milagre". Que significa "milagre"? A palavra "milagre" deriva do termo latino "mirabilia" (de onde deriva também a palavra "maravilha"), que significa propriamente "aquilo que é digno de ser visto". Neste sentido, muitas coisas são dignas de ser vistas. E aquelas que, pelo hábito de serem vistas diariamente, perderam para nós a sua beleza e o seu mistério, não deixam por esse motivo de continurem a ser "dignas de ser vistas". Temos de vê-las porém com outro olhar, numa nova perspetiva. Porque não são as coisas que perderam o encanto e o mistério, fomos nós que perdemos a faculdade de lhes reconhecer esse encanto e esse mistério. Assim,nunca consideramos "milagre" um facto que faz parte do nosso quotidiano, ainda que não seja compreendido por nós e conserve um mistério que não sabemos desvendar. Mas, o que é que consideramos propriamente um "milagre"? Segundo a Tradição gnóstica ortodoxa, o milagre é a interferência direta das leis de um Cosmos superior no nosso Cosmos (o Cosmos de que faz parte o nosso planeta). Ora, em condições normais, não há essa interferência. Mas a interferência pode acontecer pela presença de um agente mais evoluído do que nós ou pela presença de uma estado de consciência mais elevado em que, ocasionalmente, nos possamos encontrar. Assim, alguém que se encontre num estado de consciência superior ao habitual e, portanto, numa frequência vibratória mais elevada, pode ter acesso a esse Cosmos superior, atraindo para o nosso plano as leis desse Cosmos. Foi o que aconteceu comJesus Cristo e com outras pessoas que alcançaram níveis muito elevados de evolução: Estabeleceram contacto com um Cosmos mais elevado e atrairam as Leis desse Cosmos. Nessas circunstâncias, podem ocorrer fenómenos desconhecidos que nos transcendem, como, por exemplo, a cura de doenças, consideradas incuráveis pela nossa ciência. Deixo aqui ao leitor estas sementes de reflexão. Não lhe peço porém que aceite o que acabámos de dizer como uma verdade indiscutivel. Peço-lhe no entanto que aceite tudo isto como hipótese de investigação. Procure contudo em si mesmo, atrvés do conhecimento de si próprio a resposta para estes problemas, sobre os quais voltaremos a falar oportunamente. Sem discernimento não conseguimos interpretar conscientemente os "sinais" que chegam até nós. Uma fé irracional não conduz a parte alguma e ficamos facilmente prisioneiros nas armadilhas da nossa própria imaginação.
Ramakrishna costuma contar esta parábola aos seus discípulos: "Um homem tinha aprendido com o seu mestre que tudo quanto existe é Deus. E um dia, ao passar numa rua, viu um elefante que marchava na sua direção. Imediatamente, o condutor do elefante advertiu-o, gritando diversas vezes para que se afastasse: "Deixa passar o elefante. Afasta-te!". Mas, o homem ficou indiferente, pensando deste modo: "O meu mestre ensinou-me que tudo é Deus. Assim, eu sou Deus e o elefante também é Deus...Porque me devo então afastar? Deus não pode ter receio de si próprio. Deus não pode fazer mal a si mesmo..." Não deu portanto importância ao aviso do guia, que continuava a gritar para que se afastasse. Então, momentos depois, o elefante arrebatou-o com a tromba e projetou-o para longe. O pobre homem ficou muito ferido. E logo que recuperou, dirigiu-se ao mestre, contando-lhe o sucedido e expressando a sua incompreensão em relação ao ensinamento de que tudo é Deus. O mestre ouviu-o atentamente e respondeu: "De facto, tudo é Deus. Tu és Deus e o elefante é Deus. Mas, o guia do elefante também é Deus. E ele avisou-te diversas vezes para saires do caminho. Por que não deste importância ao seu aviso?" A interessante história que contámos na Reflexão anterior chama-nos a atenção para uma realidade muito importante: A necessidade de interpretarmos corretamente os "sinais" que chegam até nós.
Infelizmente, a "Fé", que muitos de nós dizem ter - como aconteceu com o protagonista da referida história - é uma fé cega e irracional. Estamos convencidos de que a Lei e a Ordem do Universo, que costumamos designar por Deus, tem de estar sempre de acordo com as nossas ilusões, as nossas fantasias, os nossos caprichos. Contudo, a realidade é muito diferente. A Razão do Universo - o Logos, segundo os gregos - faz tudo bem feito. Mas, segundo uma "Lógica" que não é a nossa "lógica", sendo por isso que temos de desenvolver o "discernimento" e ampliar a consciência. Caso contrário, perdemos o tempo com fantasias e especulações inúteis que não conduzem a lado algum. Se queremos alcançar um nível mais elevado de realização humana, temos de harmonizar o que sentimos e o que pensamos com a Ordem Universal. A nossa vontade tem de se submeter à Vontade do Universo. "Pai, cumpra-se a Tua Vontade e não a minha", disse Jesus. O que não significa, porém, que o homem deva perder o livre arbítrio. Na presença do livre arbítrio encontra-se a possibilidade de se alcançar a Liberdade. Nisso consiste a maravilha da Criação: Atingir conscientemente a harmonia com as leis da Vida universal. A vida tem de se tornar meditativa. Mas, para que isso aconteça é, geralmente, necessário praticarmos primeiramente exercícios de meditação. Repare que digo: praticar exercícios de meditação e não praticar meditação. A diferença que acabo de acentuar deve-se ao facto de que não se deve confundir exercícios de meditação com a meditação propriamente dita. Esta é um estado que se pode alcançar e que, uma vez alcançado, permeia toda a nossa vida. De modo que, quando a vida se torna meditativa, todos os nossos atos são meditativos. Por outras palavras: todos os nossos atos, mesmo os mais simples, são conscientes.
Sabemos contudo que muitas pessoas não se mostram recetivas à prática de exercícios de meditação, com o argumento de que não dispõem de tudo. Uma questão porém deve ser evidenciada: É absurdo pensar que tudo nos deva ser dado gratuitamente sem qualquer esforço da nossa parte. Transformar-nos a nós próprios, de acordo com o que dissemos na Refleção anterior, não é possível sem o esforço consciente da nossa decisão e do nosso consentimento. E esse consentimento é assinalado pelo trabalho que devemos realizar sobre nós próprios. Esta é pois uma questão de fundo. E a partir de um determinado momento, começaremos a perceber que o Universo responde sempre às nossas necessidades. Mas não aos nossos desejos. Essa é uma ilusão que alguns autores de livros pseudo esotéricos, mais interessados na comercialização e no lucro, nos pretendem impingir. Sem que nos encontremos num estado meditativo não nos conseguimos relacionar com a Ordem inteligente do Universo. E à medida que formos intensificando o trabalho sobre nós próprios, desenvolvendo e organizando os nossos órgãos de perceção interna, vamos recebendo informações imprevisíveis e "sinais" que chegam até nós, que temos de aprender a interpretar. Por isso, é necessário desenvolver outra faculdade muito importante: O discernimento. Vem talvez a propósito a seguinte história: "Sentado num rochedo, um homem encontrava-se numa situação muito difícil: à sua volta o mar ameaçava cada vez mais com a inevitável subida da maré. E em breve ia ficar submerso. Mas, como era um homem de muita fé, rezou fervorosamente para que Deus o viesse salvar. Entretanto, aproximou-se um barquito onde viajava um pescador que, vendo o pobre homem naquela situação, o quis transportar. Mas, o homem recusou. Tinha uma fé inabalável em Deus e, por isso, não precisava do auxílio de ninguém. "Deus virá salvar-me.Tenho a certeza disso!" - exclamou. E voltou a rezar. Pouco tempo depois, aproximou-se outro barquinho que o quis também transportar. "Não, não é preciso", disse ele ao barqueiro. "Sou um homem de muita fé. E Deus ouviu com certeza a minha prece. Virá salvar-me, não tenho a menor dúvida.!" Contudo, a situação agravou-se. A maré subia cada vez mais e, em breve, o pobre homem seria engolido pelo mar. Desesperado, ergueu o olhar para o céu e disse: "Senhor, por que não ouves a minha prece? Eu sempre confiei em Ti; sempre tive uma fé inabalável em Ti; por que não me vens salvar? Foi então que uma Voz, vinda do Infinito, se fez ouvir. Era Deus, que realmente o ouvira e lhe respondia: "Eu ouvi a tua prece. E, por isso mesmo, já te enviei dois barcos para te salvar. Por que recusaste o meu auxílio?" |
JOSÉ FLÓRIDOREFLEXÕES Histórico
Março 2017
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